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terça-feira, 12 de novembro de 2013

Resenha: Paixões Que Alucinam (1963)


Paixões Que Alucinam (Shock Corridor)

Direção: Samuel Fuller
Roteiro: Samuel Fuller
Duração: 101 minutos
Ano: 1963
País: Estados Unidos

      Sinopse: Um jornalista ambicioso se compromete a resolver um assassinato cometido dentro de um asilo - o que ele considera uma grande chance para conquistar o Prêmio Pulitzer Para isso, ele precisa infiltrar-se entre os pacientes, sendo internado como louco dentro da instituição. Só que o convívio com os outros pacientes, e com a rotina do sanatório, provocarão dramáticas mudanças no presunçoso repórter.

      Já dizia o Coringa: “A loucura é como a gravidade, basta um empurrãozinho!” Essa frase podia até ser uma epígrafe para este filme de Sam Fuller. Cairia como uma luva. Mas, o filme começa com outra epígrafe, igualmente genial. Uma frase do poeta trágico grego Eurípedes: "A quem Deus quer destruir, primeiro o enlouquece." Ou seja, o filme já começa nos dando um soco na boca do estômago, e nos dará vários deles ao longo da projeção. O título original do filme Shock Corridor fala muito mais do que o título em português, pois, o corredor pode ser considerado como um personagem. Eu estou tentando entender de onde tiraram o título Paixões Que Alucinam...
Johnny Barret no meio do "corredor"
      O jornalista Johnny Barrett almeja subir em sua carreira e ganhar o Prêmio Pulitzer. Uma forma que ele encontrou de fazer isso é se passando por louco em um sanatório para tentar descobrir quem assassinou um dos pacientes. Seria a matéria do ano. Para isso, juntamente com seu chefe, ele usa sua namorada Cathy no esquema. Ela se passa por sua irmã e vai denunciá-lo por atos de incesto, de modo que o levem internado. Ele passa por toda uma preparação com um psiquiatra para agir exatamente como um louco. Obviamente, Cathy é contra isso, mas acaba cedendo. Aí é que começa o drama. Aos poucos vemos como um ser humano “são” e torna louco. Nesse ponto o filme é impecável. Eu realmente me senti perturbado. Imagina que tenso...
Cathy e Johnny
      Porém, não só de socos no estômago é feito o filme. Temos momentos realmente divertidos. Meu personagem favorito é disparado o Pagliacci. Quem assistiu vai entender perfeitamente. De início até tive medo dele. Mas, aos poucos se revelou bastante engraçado e cativante. Imagina um cara alto, gordo, que dorme em uma cama ao lado da sua. Essa pessoa se levanta no meio da noite e começa a cantar ópera olhando pra você. Este é o Pagliacci. Além dele, tem outros personagens bastante irônicos, como um negro que acredita que é o grão mestre da Ku Klux Klan, por exemplo.
Pagliacci, gente boa pra caramba
      Sam Fuller filma de forma crua. O filme é como um vômito da mente humana. É assustador como é fácil deixar uma pessoa com a sanidade mental comprometida. E o interessante é que essas pessoas têm alguns rápidos momentos de sanidade. É aí que Johnny tem que agir, pois sabe-se que três pacientes presenciaram a cena do crime. Aos poucos Johnny interage com as testemunhas coletando as informações necessárias. E algo que achei bastante genial foi o modo como os pacientes tinham seu momento de sanidade. A fotografia do filme é em preto & branco de alto contraste. Mas, nesses momentos, quando o paciente se lembra de algo real de sua vida, as lembranças se tornam coloridas.
Essa cena não precisa de legenda...
      Tudo isso é uma grande crítica ao ser humano. Até que ponto um homem chega para ganhar um prêmio? Que riscos uma pessoa se submete para isso? No final vale à pena? Sam Fuller nos mostra que o ser humano é capaz de qualquer coisa para obter sucesso. Nos mostra que o mundo é um lugar fútil (vide os vídeos mais acessados da internet). E, assim como o Coringa, nos mostra que para a loucura, basta um empurrãozinho. Ou basta uma visitinha ao corredor...


Resenha de Raphael Chiavegati Oliveira

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