Estranho Encontro
Direção: Walter Hugo Khouri
Roteiro: Walter Hugo Khouri
Duração: 89 minutos
Ano: 1958
País: Brasil
Sinopse: Ao dirigir-se para a casa de campo de sua noiva, um rapaz vê na estrada uma moça cambaleando e resolve ajudá-la. Ele a leva consigo e ela diz que estava fugindo de seu companheiro que a maltratava.
Já faz mais de três anos que não escrevo para este blog. Eu precisava de um bom motivo para voltar a escrever aqui. Eis que me surge esse filme que acabo de assistir. E o melhor ainda: um filme nacional. Que produção primorosa! Fui maravilhosamente surpreendido meio que aleatoriamente. Sim, pois escolhi uma playlist random de filmes nacionais antigos e esse era o primeiro da lista. E já nos primeiros minutos de projeção eu estava envolvido com a trama.
A bela Andrea Bayard no banco de passageiro do carro de Marcos |
Pode-se dizer que o clima do enredo é envolto de mistério. O filme já começa com Marcos dirigindo por uma estrada a noite. Ele é surpreendido por uma linda moça perdida no meio da estrada. Na verdade ele quase atropela a coitada. Após a freada brusca ele sai do carro para tentar ajudá-la e ela parece bastante confusa. Tudo o que ela quer é fugir. Marcos que estava a caminho da casa de sua companheira resolve levar a moça. Nesse ponto chegou a me lembrar do excelente 5 Steps to Danger (1957) de Henry S. Kesler. Recomendo!
Justaposição de um relógio sobre o rosto de Júlia. Seu companheiro era obcecado por relógios. |
Chegando lá, o caseiro estava presente no local, para o azar de Marcos. O rapaz decide esconder a moça do caseiro, a fim de evitar problemas com sua companheira. E devo dizer que até aqui eu já estava vidrado no filme. O roteiro é muito bem escrito e a direção é quase impecável. A cada diálogo queremos saber mais e mais sobre as personagens.
Marcos e Júlia |
Uma vez dentro da casa e escondidos do caseiro, a moça, que se chama Júlia, explica para Marcos o motivo de sua fuga. Ela diz que foge de seu companheiro por ele maltratá-la. Nesse momento entramos em um flash-back sensacional que mostra a relação dela com Hugo, que é um homem atormentado e neurótico que tem uma perna amputada. E as cenas são cheias de estilo e têm toques de surrealismo. E é bom observar que Hugo aparece sempre de costas, mantendo o mistério em torno de sua figura e deixando-o mais ameaçador.
Júlia e Hugo. Repare que Hugo não aparece de rosto. E repare também como a presença dele oprime Júlia na cena. |
Conversa vai, conversa vem, Júlia acaba passando a noite lá. Mais do que isso, passa duas noites. O grande problema foi que na manhã do terceiro dia a companheira de Marcos, Wanda, chega. Wanda é uma mulher um pouco mais velha e rica que sustenta o rapaz e faz tudo o que ele quer. E as coisas ficam complicadas quando Marcos vê que Hugo colocou um anúncio no jornal sobre o desaparecimento de Júlia alegando que ela sofre de suas "faculdades mentais". Vou parar por aqui de falar sobre o enredo, pois não quero estragar nada.
Um close-up extremo de um gato. |
Me impressionei com as duas atrizes, a ótima Andrea Bayard que interpreta a Júlia e a igualmente talentosa Lola Brah que interpreta a Wanda. Elas têm uma presença de cena e lembram muito atrizes clássicas de Hollywood. Elas têm tanto carisma quanto. Mário Sérgio que interpreta Marcos também impressiona. Ele faz bem o tipo "cara sacana de bom coração". Luigi Picchi, mesmo de costas na maior parte do tempo, entrega um Hugo carrancudo e ameaçador. E não vou deixar de citar o ótimo Sérgio Hingst que faz bem o papel do caseiro filho da puta mercenário que é um X9 Rui. Todos convencem muito bem. Na verdade o filme todo possui uma elegância que me surpreendeu demais e que vai me fazer assistir a mais filmes nacionais dessa época.
Olha que lindo esse plano! |
O final me deixou surpreso também. Não por ser algo ultra bombástico, mas por ser bem humano. Sério! Se você assistir vai entender o que eu estou falando. O que é um final feliz para uns, é um final trágico para outros. O espectador consegue sentir a alegria e ao mesmo tempo a melancolia com o desfecho da trama. Fica aí a dica de filme bom desconhecido nacional dos anos 50 que você estava procurando.
Resenha de Raphael Chiavegati Oliveira
O filme está disponível no Youtube. Assista aqui:
O filme está disponível no Youtube. Assista aqui: